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sexta-feira, 25 de março de 2016

Sobre ser avó





O inimigo é forte! Eu também sou.
Continuo nas quimios. farei a terceira deste ano mês que vem. Continuo indo e vindo. Mas tudo vai tomando o tempo certo no percurso destas bandas.


Quando adoeci, há cinco anos atrás, sentada ouvindo a médica afirmar que:- sim, era câncer, sim, era urgente tomar decisões, sim, era grave , e enquanto ela discorria sobre aquilo que estava acontecendo, e não era comigo, não poderia ser, a mente me tirou da tempestade. eu a via, mas não a ouvia, e me elevou para um outro plano. Enquanto sua boca se mexia, eu pensava:

- haverá tempo para acabar de ler o livro que estou lendo? "O amor no tempo do cólera", eu amo Gabriel Garcia Marques, eu estava absolutamente envolvida com os personagens, e estes tiveram tempo demasiado para viver seu grande amor. 

-Haverá tempo para ver o mar? Mergulhar em suas águas, sentir a força que emana do céu? E...

-Haverá tempo para contemplar o olhar do meu neto e  matar a saudade de alguém que jamais vislumbrei?

Quando voltei a ouvir o que aquela boca falava eu só pensava: - Vai ter que dar tempo!


Eu li e reli muitas vezes este livro.  Mergulhei no mar  e contemplei a forca do céu.

E em Setembro de 2015 eu entreguei meu coração ao segundo homem da minha vida ,o primeiro foi meu filho,meu neto.


Quando eu o olhei a primeira vez eu sabia que o conhecia há tempos, era só ele chegar.Em meus sonhos ele já me visitava, vindo de onde ainda não havia corpo físico. Me reencontrei.

Ganhei o titulo de avó, e agora luto para escutar de sua boca a palavra: - Vovó...

Sempre existe um motivo para se lutar. Não sei se o verei criança, adolescente, adulto, mas eu o vi, o peguei e lhe entreguei meu coração. Bruno Henrique.

Que lindo é ter um neto. Se tiver paciência leia:


Rachel de Queiroz: A Arte de Ser Avó 


Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.


E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avó, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...

No entanto - no entanto! - nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente, ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer roquetes, tomar café - café! -, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó, e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...


Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém, esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!

E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.

E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade...

Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...

(O brasileiro perplexo, 1964.)


segunda-feira, 29 de junho de 2015

Decisoes


9

Amanha reinicio as quimios por conta de dois pequenos nodulos. A pausa de um ano ajudaram muito o corpo a se recuperar.
Diante da situacao encaro tudo com uma certa tranquilidade, nada que um bom choro no chuveiro e uns palavroes nao resolvam. Como estou no lucro da vida, cada dia e um encantamento. Que bom!
O protocolo e o mesmo do ano anterior, cabelos nao caem, o que ja da uma animada .
Muitas coisas mudaram em minha vida com a doenca, nao so minha cabeca, mas mudancas geograficas mesmo.
Me  aposentei e agora sou mosaista, isto foi bom, os mosaicos sou eu em pedacos, colada numa nova forma de beleza.
Tive que sair de minha ha casa e de cidade, ainda conto essa historia sem pudor, e fui morar numa cidade que se me da afetividade junto a familia, e precaria em medicos.
Venho para Campinas fazer o tratamento e volto a cada 20 dias. Dispendioso e cansativo. Quando venho fico no apartamento da minha filha Heloisa. Agora ela esta mudando para Sao Paulo em busca de uma nova oportunidade na carreira e estar perto do namorido.
Isso significa uma nova mudanca para mim. Campinas ficara inviavel e tenho que encontrar seguranca medica em um novo lugar, que nao sera Lins, onde estou agora, com certeza.
Nestes cinco anos desde que adoeci eu formei duas filhas na faculdade, mais dois entraram na faculdade,inclusive aquele que poucos acreditavam, casei tres filhas,e agora tenho um neto a caminho. Nao e facil. Mas tem valido a pena um bocado mais da minha cota de vida.
Novas decisoes a serem tomadas, vamos a elas.

Obs. Estou escrevendo num tablet e nao sei como funcionam os acentos, desculpem

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O Tempo












O tempo – eu tinha tempo agora, depois de tanto tempo sem tempo eu o tinha agora. Tempo para cuidar de mim, ir à academia e descobrir um mundo nunca visitado: a música, a dança,   a leveza proporcionada quando todas as suas metas estão a um passo de serem cumpridas, alegria enfim!
Eu estava feliz, bonita e saudável e o coração pronto para amar.
“Eu fui sambando e te admirando, você me olhando, você foi tomando conta do meu coração”, e 20 anos de diferença de idade, essa  parecia ser a única barreira existente, a vontade de viver e amar superou tudo, mesmo sabendo ser o momento passageiro e de não haver nenhuma  expectativa do futuro.
Mas era como se eu soubesse instintivamente aquele era o meu momento de viver essa história de amor, que talvez não houvesse mais tempo.
Bailamos, cozinhamos, choramos, rimos, ouvimos musicas, nos apaixonamos. Aprendi em três anos para toda uma vida, novos sabores, nova culinária ,novas músicas, aprendi a gostar de um Estado que só ouvia coisas ruins. Amei esse homem por  sua perseverança, sua história de vida que merecia ser contada a seus filhos e ao filho de seus filhos ao longo da vida. Cuidei, zelei enquanto pude e então... Então eu adoeci tão gravemente que talvez não houvesse tempo mais para bailar e amar.
O tempo, três anos  de paz evaporaram , abriram lugar para uma nova luta, um novo tempo de tristeza   e dor.
A música cessou, o riso calou e junto com o último fio de cabelo que caia pelo ralo o amor acabou. Só as lágrimas ficaram.

Por fim não morri, ganhei mais tempo, perdoei o que devia ser perdoado e segui bailando, chorando, rindo e principalmente amando. E essa passou então a ser somente mais uma história da minha vida, pois o Tempo tudo cura.






terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O admirável Waldir das Neves

O meu tio, o admirável Waldir das Neves



Muitos fatos marcaram minha vida neste mês de Novembro, alguns bons, outros de uma ausência irremediável.

Depois do strees do exames, espera de resultados, consulta e o Uffffaaaaa! vai um longo caminho e ai você ganha mais dois meses de tranquilidade. Guardo no armário mais escondido os exames e recomeço a viver. 

Se eu disser que recomeço a viver de forma esfuziante minto descaradamente, vivo miúdo, saboreio coisas pequenas do dia-a-dia, não faco grandes planos, mas já consigo sonhar para o ano que vem, um passeio, uma viajem, não e pouco para quem passou raspando literalmente pela morte.

Dia 27 tive uma noticia que me deixou feliz e triste ao mesmo tempo, minha aposentadoria integral foi decretada, readaptei, mas jamais voltei a escola novamente, nova cirurgia e quimios trataram de me manter afastada, por fim , a Secretaria de Educação de SP resolveu me aposentar, fiquei aliviada, pois estava tudo enrolado, mas triste, pois deixo para traz a profissão que escolhi, amei e fui muito feliz com ela, tenho que buscar um novo caminho de satisfação, Por mais que ame a Educação, energia me faltam para a correria da escola e suas demandas. 

Neste mesmo dia meu tio Waldir partiu, essa partida foi mais dolorida.

Perder quem acompanhou sua infância e fez parte dela é indescritível.

Com este meu tio ouvi pela primeira vez a falar dos grandes filósofos,do Marxismo, ouvi boas, muito boas músicas, e compartilhamos o gosto pela leitura.

 Este meu tio era tao inteligente nas suas observações do ser humano, nas suas leituras do comportamento que eu, mesmo criança, percebia uma imensidão de fatos que ainda precisava aprender, e mesmo sem saber ele foi professor, porque me estimulou a busca do conhecimento.Era um revolucionário.

Baseados em suas leituras e pela sua mente prodiga suas observações não eram facilmente digeridas, queríamos mais sonhos para acreditar na nossas existências.

Quem lê tanto autores tao complexos para muitos, não poderia deixar de ser complexo consigo mesmo e com os outros. Para minha vida este foi o legado que ele me deixou: a leitura, a música e a reflexão, estes  me deram alicerces até aqui para enfrentar esta porcaria de  doença.

Por causa dela, por sofrermos do mesmo mal nos reaproximamos, ele passava as mãos  pelos meus cabelos crescendo após as quimioterapias e dizia sempre que eu estava linda.Falamos, ele nos últimos tempos, pela escrita, sobre sonhos, vida e principalmente da morte, entendemos nossas fragilidades e sobretudo que fizemos o melhor que podíamos com aquilo que nos foi dado.

Por isso, e pelos testemunhos de seus filhos, da sua neta Larissa e pela minha própria vida sei que deixou que  nos  deixou aprendizados, no final, sobretudo de coragem, e não é isso que vale a vida afinal? Conheço e já conheci milhares de pessoas por toda a minha vida, e poucas me deixaram tao grandes alicerces. Fico feliz de poder ter demonstrado a ele o grande respeito que lhe tinha.





segunda-feira, 6 de outubro de 2014

novos exames

Novo processo de exames. Ca 125, tempo de stress e neuroses. Na semana da retirada do sangue para medir  o Ca no sangue  tive uma infecção de urina. Dor nos rins, nas pernas, dor de cabeça, mal estar...pronto,tumor no cérebro, metástase em todo o corpo e flertar com a morte, é assim que se sente quem já teve câncer, dor pouca é bobagem. 

Mas era só infecção na urina mesmo hahahahahah..... Ca em 4,2 un/ml ( o máximo e 35,00 un/ml) . exames gerais Ca 125, tomografia em Dezembro. Ufa!!!! até lá um pouco de paz.

Noticias boas.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Depois de tudo... Férias

Agora venho dar novas noticias. Fiz todo o processo preventivo, três quimios, um mês depois tomografia e CA 125. As tomos mostraram ausência da doença e o CA 125 ( medição de tumor no sangue) mostrou uma taxa de 4,5ml o máximo e 35ml. Tudo bem então pelo momento.

Os efeitos da quimio vão deixando o corpo mais forte, seguro, ainda tenho olheiras para dar no fim, mas já diminui bem, a cor escura dos pés e mãos desapareceram.

Depois destes bons resultados ganhei um presente de minha filha caçula e meu genro, fui visita-los em Natal - RN e no dia 22 de Agosto lá cheguei.

Rever minha filha , vê-la bem, feliz, linda,aprendendo coisas novas, a dirigir , fazendo Yoga, foi de estufar o peito de orgulho. A pequena esta na faculdade de Pedagogia e já da aulas.

Outra grata surpresa foi encontra-los numa alimentação saudável, quase sem carne vermelha, com muitos grãos, sucos, verduras, legumes e sucos naturais, se cuidando e cuidando do namorido para poderem surfar muito. Alimentação que vou adotar, pois me senti bem, leve, alimentada, forte, sem aquele peso e meu organismo reagiu muito bem.

Ver a pequena no meio das ondas praticando bodyboard é assustador, Vontade de começar a gritar na praia, como quando era uma menininha e dizer ;Volta já pra cá, não falei pra não ir para o fundo? Hahahaha. Mas ela vai bem, com cautela e faz muita atividade física.

Entregar seus filhos para morarem junto com outra pessoa não e fácil não, ainda mais indo tao longe,Ainda sofro com a Síndrome do Ninho Vazio, sinto muito a falta delas, mas vê-la sendo bem tratada, linda, amada, sem que lhe falte nada me deixou tao mais tranquila, com o coração suave, cheio de paz.Daniel, seu marido e uma pessoa boa, de bom caráter e cuida da minha pequena.

Fiz muitos mosaicos para a casa nova deles, li muito com Otto aos meus pés  um buldogue francês), conversamos sobre Sartre,psicologia e  sobre a existência, a essência humana , conversas que sempre tivemos e que me fazem muuuiiita falta. Sempre aprendo muito com essa minha filha.;)

Ver o mar sempre me enche de forças, sinto meu coração se encher se contentamento sempre que olho aquela imensidão, o barulho de sua força, me sinto forte, renovada.

E fica a dica de passeio, Natal é lindo, as praias de tirar o folego.

Enfim, vivendo momentos mais calmos e tranquilos. Outubro consulta e novos exames.Segue algumas fotozinhas
Um espelho que estava no quintal ganhou um novo rosto.

Otto, livros, musica

Eu e Elisah


Mosaico que levei para a nova casa

Daniel, Elisah e eu

Tinha umas telhas, pedrinhas de praia, pronto, virou mosaico





Voltando a forma fisica
.
Dirigindo... pode? Pode!!!!!!!!!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

segunda quimio... de novo!

A segunda quimio deste novo ciclo completou se donwload com sucesso. Argh!!!!!!!!
Hoje é o terceiro dia, começam a ficar mais suaves os sintomas, boca amarga, enjoo e uma sensação de estar cheia, lotada, não cabe nada, nem bem estar. 

Quando voltei para casa fiquei um tanto sem apetite, melão e sardinhas em lata salvaram minha vida, sim, você nunca sabe o que vai conseguir comer, o que te apeteceu numa quimio, pode não te apetecer na próxima, a  de ser ter um leque de opções nem sempre possíveis , ficar doente não é barato.

Durante o período de recuperação soube que minha amiga amiga querida Sonia havia morrido. Ela estava doente há algum tempo, não era câncer, em menos de seis meses sua saúde se debilitou e ela partiu.Sua partida me deixou desolada e o mundo parece ficou menor. 

Minha amiga era dona de um  humor sarcástico e direto, valorizava muito as conquistas dos amigos e se orgulhava deles, e eu tive o privilégio de ser umas delas.

Quando a conheci ela estava acostumada a dar aulas para o Ensino Médio, no ano seguinte ela assumiu aulas no Ensino Fundamental e ficou bem nervosa, não tinha certeza se se adaptaria a eles,afinal ela era durona e achava ter pouca paciência, foi sem muita surpresa que a vi, passados meses, com as crianças em volta dela pelos corredores da escola sapecando-lhes beijos, afagos e a fazendo rir, pois a risada que ela tinha lhe era peculiar, firme e gostosa.

Tive o privilegio de ser sua colega professora e depois sua coordenadora e ela sempre esteve ali, pronta para os desafios dos novos projetos que se iniciavam, foi uma companheira maravilhosa.

Gostava de nos reunir, seus amigos, beber uma cerveja, nos fazer rir. No seu perfil do facebook seus alunos demostraram o tanto é querida, sei que se as  pudesse ler  daria  uma bela risada seguida de um : - Eu que sei!

É amiga, eu continuo aqui, nesta luta inglória, confusa, cheia de dor, você já descansa delas. A vida é assim!