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terça-feira, 20 de novembro de 2012


SEI-O SEREI-A 

Um cemitério de homens mortos 
na memória 
e eu não sei o que dizer 
às minhas filhas. 

De que valeu amar 
apaixonada, 
gerando nas entranhas a poesia 
da minha sexualidade envergonhada? 

Eu semeei: eram flores, 
mas colhi o vice-versa e o verso. 
Deu mel? Deu flor? 

Só sei que não deu certo 
e eu não sei o que dizer 
às minhas filhas. 

Não tive culpa se 
os homens não amaram. 
Que culpa tive se foi tudo 
vão? 

Como explicar o que é o amor 
pras minhas filhas 
se elas vão amar um garanhão? 

Como assinar por baixo 
da minha vida? 

Um cemitério de homens mortos 
na memória. 

Homens que não fizeram nada 
desta história de mim; 
que se furtaram pela porta: o vão 
e me deixaram berços, 
sem saber o que dizer 
às minhas filhas: 
se mostrar no ser mulher 
a marca do estigma 
ou a da repressão. 

Talvez lhes fale 
da larva, a pupa e a borboleta 
ou lhes diga da alma; 
que se emendam em grandeza 
o símbolo da pomba e da pureza, 
o signo do corpo e do orgasmo. 

Talvez não diga nada. 
São mulheres: serão apaixonadas. 
Mas o que é que eu vou dizer 
às minhas filhas? 

(Yêda Schmaltz: Pernambuco, 1941 - Goiás, 2003)

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