SEI-O SEREI-A
Um cemitério de homens mortos
na memória
e eu não sei o que dizer
às minhas filhas.
De que valeu amar
apaixonada,
gerando nas entranhas a poesia
da minha sexualidade envergonhada?
Eu semeei: eram flores,
mas colhi o vice-versa e o verso.
Deu mel? Deu flor?
Só sei que não deu certo
e eu não sei o que dizer
às minhas filhas.
Não tive culpa se
os homens não amaram.
Que culpa tive se foi tudo
vão?
Como explicar o que é o amor
pras minhas filhas
se elas vão amar um garanhão?
Como assinar por baixo
da minha vida?
Um cemitério de homens mortos
na memória.
Homens que não fizeram nada
desta história de mim;
que se furtaram pela porta: o vão
e me deixaram berços,
sem saber o que dizer
às minhas filhas:
se mostrar no ser mulher
a marca do estigma
ou a da repressão.
Talvez lhes fale
da larva, a pupa e a borboleta
ou lhes diga da alma;
que se emendam em grandeza
o símbolo da pomba e da pureza,
o signo do corpo e do orgasmo.
Talvez não diga nada.
São mulheres: serão apaixonadas.
Mas o que é que eu vou dizer
às minhas filhas?
(Yêda Schmaltz: Pernambuco, 1941 - Goiás, 2003)
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